
Ramallah – DCIP. Segundo a documentação recolhida pela Defense for Children International – Palestina, crianças palestinas continuam a desaparecer em Gaza enquanto procuram comida e ajuda humanitária devido ao bloqueio israelense. Nos últimos meses, o DCIP documentou o desaparecimento de outras seis crianças palestinas em Gaza: Siraj Ismail Fayeq Abdel Aal, 16 anos, Mahmoud Jihad Hasan Abu Warda, 14 anos, Saadi Mohammad Saadi Hasanain, 16 anos, Jamal Nihad Jamil Ayyad, 13 anos, Haitham Mohammad Jamil Al-Masri, 17 anos, e Saifan-Allah Fahd Awni Ayash, 16 anos.
“As forças israelenses estão fazendo desaparecer crianças palestinas sob o pretexto da fome e do cerco”, declarou Ayed Abu Eqtaish, diretor do programa de accountability do DCIP. “As famílias procuram seus filhos sem obter respostas, enquanto Israel continua a ocultar a identidade e a localização dos detidos de Gaza”.

O adolescente Saadi, de 16 anos, desapareceu em 22 de outubro de 2025, depois de entrar na área de sua casa destruída para recolher pertences pessoais e lenha. Saadi e outros quatro foram ao local pouco depois da retirada das forças israelenses. Testemunhas relataram que quadricópteros israelenses abriram fogo, forçando o grupo a se dispersar. Dois dos meninos fugiram, enquanto Saadi e outro ficaram para trás. Na manhã seguinte, sua família encontrou o telefone, os sapatos e as calças de Saadi, além de sua camisa, amarrada ao corpo do menino com quem estava fugindo, cuja cabeça havia sido esmagada. Desde então, sua família não recebeu informações sobre seu paradeiro e teme que tenha sido capturado pelas forças israelenses.
“Acredito que meu filho tenha escolhido não abandonar seu amigo ferido, que estava sangrando, e tenha tentado socorrê-lo, mas as forças israelenses os pegaram de surpresa e levaram meu filho”, disse a mãe de Saadi. “Não consigo entender por que isso aconteceu”.

O menino Jamal, de 13 anos, desapareceu em 6 de outubro de 2025, depois de sair de casa por volta do meio-dia. Jamal e sua família tinham sido deslocados devido à intensificação dos ataques militares israelenses, e Jamal queria voltar para a cidade de Gaza. Naquela manhã, após um desentendimento com o irmão, Jamal saiu de casa e não voltou mais. Mais tarde naquele dia, um parente relatou tê-lo visto perto de Tabat al-Nwairi, com uma pequena bolsa contendo pertences pessoais, dirigindo-se a Gaza, apesar das estradas bloqueadas e das hostilidades em curso. Sua família o procurou em hospitais, necrotérios e centros para deslocados em toda Gaza, mas não encontrou nenhum vestígio dele. O paradeiro de Jamal permanece desconhecido e sua família teme que ele tenha sido sequestrado pelas forças israelenses enquanto tentava voltar à cidade de Gaza.

Saifan-Allah, de 16 anos, desapareceu em 7 de junho de 2025, pouco depois de participar da oração do meio-dia com o pai. A família o procurou em todos os lugares, mas não conseguiu localizá-lo. Saifan sofre de epilepsia, necessita de medicamentos regulares e tem capacidades mentais limitadas, o que torna seu desaparecimento particularmente alarmante. Na noite seguinte, o pai de Saifan recebeu uma ligação de um homem que se identificou como membro da inteligência israelense, que confirmou que Saifan havia sido preso por supostamente entrar em uma área restrita. O pai implorou ao homem, explicando as condições médicas e mentais de Saifan, mas o interlocutor encerrou a conversa, dizendo apenas que “o exército cuidaria disso”. No dia seguinte, a Cruz Vermelha informou à família que Saifan estava detido na prisão de Asqalan, embora nenhuma informação adicional tenha sido fornecida. Desde então, a família não recebeu atualizações sobre suas condições ou localização.

Mahmoud, de 14 anos, de Deir al-Balah, desapareceu em 4 de julho de 2024, depois de deixar sua casa para retornar ao norte de Gaza. Deslocado de Jabalia devido aos ataques israelenses, Mahmoud teve dificuldades para se adaptar ao deslocamento e desejava desesperadamente reunir-se com familiares que permaneceram no norte, incluindo um irmão que mais tarde foi morto. No dia de seu desaparecimento, Mahmoud disse à mãe que queria voltar para casa, mas seus pais lhe responderam que isso era improvável devido ao extremo perigo ao longo do corredor de Netzarim. Apesar das extensas buscas em hospitais, necrotérios e centros de deslocamento, a família de Mahmoud não encontrou nenhuma pista do menino. Detidos palestinos recentemente libertados relataram ter visto Mahmoud vivo em uma prisão israelense, embora as autoridades israelenses não tenham fornecido informações sobre sua detenção ou localização. Sua mãe acrescentou: “Ainda carrego sua bolsa com roupas toda vez que somos deslocados, na esperança de que ele volte”.

O adolescente Siraj, de 16 anos, desapareceu em 22 de junho de 2024, depois de deixar seu abrigo temporário para recolher lenha. Deslocado pelos constantes ataques israelenses, Siraj juntou-se a três parentes na tentativa de voltar para a cidade de Gaza, atravessando os campos para evitar as forças israelenses. Por volta das 18h, tanques israelenses abriram fogo contra o grupo, matando um menino e ferindo outros. Apenas o primo de Siraj, Tawfiq, sobreviveu e foi posteriormente libertado após uma breve detenção. Apesar das extensas buscas, nenhum corpo foi encontrado. Meses depois, vários parentes detidos pelas forças israelenses relataram ter ouvido o nome de Siraj na prisão de Ofer, o que sugere que ele poderia ainda estar detido em Israel. Mais de um ano após seu desaparecimento, sua família ainda não recebeu nenhuma informação sobre sua localização.

O adolescente Haitham, de 17 anos, está desaparecido há quase dois anos, desde 10 de fevereiro de 2024, depois de deixar um abrigo para deslocados para entrar na cidade através do posto de controle de Netzarim, que divide a Faixa de Gaza em duas seções. Ele havia tentado atravessar o posto de controle de Netzarim, que separa Gaza em duas partes. Sua família procurou em hospitais, necrotérios e organizações humanitárias, mas não recebeu qualquer informação. Quase dois anos depois, detidos libertados informaram ao pai de Haitham que o filho estava detido na prisão de Naqab (Negev). “Estou lutando psicologicamente”, relatou o pai. “Tive dois derrames recentemente; um afetou minha perna. Fui internado no Nasser Medical Complex. Minha esposa também está extremamente abalada. Esses derrames são resultado de toda essa situação. Como é possível que meu filho esteja comigo num momento e depois desapareça no nada? Estou tomado pelo desespero e me sinto perdido. Ele é apenas uma criança. Não está envolvido em nada disso”.
Os desaparecimentos dessas crianças fazem parte de um padrão mais amplo documentado pelo DCIP ao longo de 2025, em que o caos e os deslocamentos em massa em Gaza deixaram famílias sem qualquer informação sobre a condição ou o paradeiro de seus entes queridos. As forças israelenses detiveram arbitrariamente centenas de palestinos, incluindo crianças, sem acusação, julgamento ou notificação às suas famílias. Pais que procuram seus filhos ficam mergulhados na angústia, sem receber atualizações, confirmações ou reconhecimentos das autoridades israelenses sobre se eles estão vivos ou onde estão detidos.
Segundo o direito internacional, o desaparecimento forçado e a detenção arbitrária de menores são atos proibidos que podem constituir crimes contra a humanidade. As ações de Israel também violam suas obrigações segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, incluindo o Artigo 37, que exige que a detenção de um menor seja usada apenas como último recurso, e o Artigo 9, que garante que menores não devem ser separados dos pais contra sua vontade e que devem poder manter contato regular com eles.
O desaparecimento forçado de crianças palestinas no contexto do bloqueio e dos ataques contínuos por parte de Israel reflete a total erosão dos mecanismos internacionais de proteção. Enquanto Israel continuar a agir com impunidade, as famílias palestinas permanecerão presas na incerteza, na busca incessante por seus filhos desaparecidos.
